16-06-2015, 04:04 AM
(Esta postagem foi modificada pela última vez a: 16-06-2015, 04:32 AM por Coach Man.)
Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 1902 (vindo a falecer em 1994). Tendo inicialmente optado pela carreira artística, foi convidado a trabalhar em uma escola para pacientes submetidos à psicanálise, entrando então em contato com o grupo de Anna Freud. Em 1933, quando se casou com uma canadense, mudou-se para os Estados Unidos, continuando seus estudos em Psicanálise, tornando-se o primeiro psicanalista infantil americano.
Sem negar a teoria freudiana sobre desenvolvimento psicossexual, Erikson mudou o enfoque desta para o problema da identidade e das crises do ego, ancorado em um contexto sociocultural. O estudo da identidade tornou-se estratégico para o autor, que viveu em uma época onde a Psicanálise deslocava o foco do id e das motivações inconscientes para os conflitos do ego.
Na verdade, é preciso considerar que as mudanças de enfoque na teoria psicanalítica ocorreram antes da morte de Freud (Hall et. al., 2000). O que havia de ser contestado e modificado foi feito por seus discípulos em sua presença. Esta foi a causa de tantas dissidências em seu círculo de estudos. Jung e Adler são exemplos daqueles que foram excluídos de seu grupo ao discordarem de alguns pontos da teoria freudiana ou simplesmente por terem mudado o foco de estudo. Após a morte de Freud, a Psicanálise sofreu uma espécie de ampliação. Algumas idéias foram redefinidas, outras suprimidas, mas, em sua maioria, até mesmo por decorrência do contato da Psicanálise com a Psicologia, foram estendidas.
Um avanço da teoria freudiana que é, sem dúvida, da maior importância para o estudo do humano no século XX, é o foco no ego. Em Freud, o ego aparece como sistema muitas vezes subserviente ao id. Anna Freud, filha de Sigmund Freud, dando continuidade aos seus estudos, atribuiu ao ego uma característica de mais autonomia, com um maior poder de decisão e de atuação. Anna também ampliou os mecanismos de defesa de sete para dez., atribuindo a eles um caráter menos patológico do que Freud o fizera. Com sua teoria, Anna Freud também transformou os estágios psicossexuais de seu pai em estágios de busca de domínio do ego, dando a base para os estudos de Erik Erikson. Esta fase na Psicanálise ficou conhecida como época da “Psicologia do Ego”, onde se diminuía a ênfase no inconsciente (Hall, et. al., 2000).
Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste. A partir desta consideração, Erikson formula sua teoria de forma a deixar duas importantes contribuições à Psicanálise, segundo Hall e colaboradores (2000): deixa uma teoria na qual o ego tem uma concepção ampliada e realiza estudos psicohistóricos, exemplificando sua teoria psicossocial no curso de vida de algumas figuras famosas. Essa metodologia é totalmente nova para a Psicanálise da época e na própria psicologia, pois estudos longitudinais eram muito raros e complexos de serem realizados (ainda o são hoje), embora se mostrem como um excelente método de validar teorias como a de Erikson, que trabalham o clico vital como um contínuo onde cada fase influencia a seguinte.
Assim como Freud, Piaget, Sullivan, entre ouras figuras da época, Erikson optou por distribuir o desenvolvimento humano em fases. Porém, seu modelo detém algumas características peculiares (Rabello, 2001):
Na verdade, é preciso considerar que as mudanças de enfoque na teoria psicanalítica ocorreram antes da morte de Freud (Hall et. al., 2000). O que havia de ser contestado e modificado foi feito por seus discípulos em sua presença. Esta foi a causa de tantas dissidências em seu círculo de estudos. Jung e Adler são exemplos daqueles que foram excluídos de seu grupo ao discordarem de alguns pontos da teoria freudiana ou simplesmente por terem mudado o foco de estudo. Após a morte de Freud, a Psicanálise sofreu uma espécie de ampliação. Algumas idéias foram redefinidas, outras suprimidas, mas, em sua maioria, até mesmo por decorrência do contato da Psicanálise com a Psicologia, foram estendidas.
Um avanço da teoria freudiana que é, sem dúvida, da maior importância para o estudo do humano no século XX, é o foco no ego. Em Freud, o ego aparece como sistema muitas vezes subserviente ao id. Anna Freud, filha de Sigmund Freud, dando continuidade aos seus estudos, atribuiu ao ego uma característica de mais autonomia, com um maior poder de decisão e de atuação. Anna também ampliou os mecanismos de defesa de sete para dez., atribuindo a eles um caráter menos patológico do que Freud o fizera. Com sua teoria, Anna Freud também transformou os estágios psicossexuais de seu pai em estágios de busca de domínio do ego, dando a base para os estudos de Erik Erikson. Esta fase na Psicanálise ficou conhecida como época da “Psicologia do Ego”, onde se diminuía a ênfase no inconsciente (Hall, et. al., 2000).
Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a influência deste. A partir desta consideração, Erikson formula sua teoria de forma a deixar duas importantes contribuições à Psicanálise, segundo Hall e colaboradores (2000): deixa uma teoria na qual o ego tem uma concepção ampliada e realiza estudos psicohistóricos, exemplificando sua teoria psicossocial no curso de vida de algumas figuras famosas. Essa metodologia é totalmente nova para a Psicanálise da época e na própria psicologia, pois estudos longitudinais eram muito raros e complexos de serem realizados (ainda o são hoje), embora se mostrem como um excelente método de validar teorias como a de Erikson, que trabalham o clico vital como um contínuo onde cada fase influencia a seguinte.
Assim como Freud, Piaget, Sullivan, entre ouras figuras da época, Erikson optou por distribuir o desenvolvimento humano em fases. Porém, seu modelo detém algumas características peculiares (Rabello, 2001):
Citar:• Desviou-se o foco fundamental da sexualidade para as relações sociais;
• A proposta os estágios psicossociais envolvem outras artes do ciclo vital além da infância, ampliando a proposta de Freud. Não existe uma negação da importância dos estágios infantil (afinal, neles se dá todo um desenvolvimento psicológico e motor), mas Erikson observa que o que construímos na infância em termos de personalidade não é totalmente fixo e pode ser parcialmente modificado por experiências posteriores;
• A cada etapa, o indivíduo cresce a partir das exigências internas de seu ego, mas também das exigências do meio em que vive, sendo portanto essencial a análise da cultura e da sociedade em que vive o sujeito em questão;
• Em cada estágio o ego passa por uma crise (que dá nome ao estágio). Esta crise pode ter um desfecho positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo);
• Da solução positiva, da crise, surge um ego mais rico e forte; da solução negativa temos um ego mais fragilizado;
• A cada crise, a personalidade vai se reestruturando e se reformulando de acordo com as experiências vividas, enquanto o ego vai se adaptando a seus sucessos e fracasso.
Erikson criou alguns estágios, que ele chamou de psicossociais, onde ele descreveu algumas crises pelas quais o ego passa, ao longo do ciclo vital. Estas crises seriam estruturadas de forma que, ao sair delas, o sujeito sairia com um ego (no sentido freudiano) mais fortalecido ou mais frágil, de acordo com sua vivência do conflito, e este final de crise influenciaria diretamente o próximo estágio, de forma que o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo estaria completamente imbricado no seu contexto social, palco destas crises.
Abaixo, descrevemos sucintamente tais crises do ego.
Abaixo, descrevemos sucintamente tais crises do ego.
Primeiro Estágio – Confiança Básica x Desconfiança Básica
Esta seria a fase da infância inicial, correspondendo ao estágio oral freudiano.A atenção do bebê se volta à pessoa que provê seu conforto, que satisfaz suas ansiedades e necessidades em um espaço do tempo suportável: a mãe. A mãe lhe dá garantias de que não está abandonado à própria sorte no mundo.
Assim se estabelece a primeira relação social do bebê. E justamente sentindo falta da mãe que a criança começa a lidar com algo que Erikson chama de força básica (cada fase tem a sua força característica). Nesta, a força que nasce é a esperança. Quando o bebê se dá conta de que sua mãe não está ali, ou está demorando a voltar, cria-se a esperança de sua volta. E quando a mãe volta, ele compreende que é possível querer e esperar, porque isso vai se realizar; ele começa a entender que objetos ou pessoas existem, embora esteja fora – temporariamente – de seu campo de visão.
É importante que a criança conviva com pequenas frustrações, pois é daí que ela vai aprender a definir quais esperanças são possíveis de serem realizadas, dando a noção do que Erikson chamou de ordem cósmica, ou seja, as regras que regem o mundo.
Nesta fase também o bebê tem a idéia de sua mãe como um ser supremo, numinoso, iluminado. Nesta mesma época, começam as identificações com a mãe, que é por enquanto, a única referência social que a criança tem. Se esta identificação for positiva, se a mãe corresponder, ele vai criar o seu primeiro e bom conceito de si e do mundo (representado pela mãe). Se a identificação for negativa, temos o idolismo, ou seja, o culto a um herói, onde o bebê acha que nunca vai chegar ao nível de sua mãe, que ela é demasiadamente capaz e boa, e que ele não se identifica assim. Inicialmente, a criança vai se tornar agressiva e desconfiada; mais tarde, elas vão se tornar menos competentes, menos entusiasmadas, menos persistentes.
Assim se estabelece a primeira relação social do bebê. E justamente sentindo falta da mãe que a criança começa a lidar com algo que Erikson chama de força básica (cada fase tem a sua força característica). Nesta, a força que nasce é a esperança. Quando o bebê se dá conta de que sua mãe não está ali, ou está demorando a voltar, cria-se a esperança de sua volta. E quando a mãe volta, ele compreende que é possível querer e esperar, porque isso vai se realizar; ele começa a entender que objetos ou pessoas existem, embora esteja fora – temporariamente – de seu campo de visão.
Citar:Quando o bebê vivencia positivamente estas descobertas, e quando a mãe confirma suas expectativas e esperanças, surge a confiança básica, ou seja, a criança tem a sensação de que o mundo é bom, que as coisas podem ser reais e confiáveis. Do contrário, surge a desconfiança básica, o sentimento de que mundo não corresponde, que é mau ingrato. A partir daí, já podemos perceber alguns traços da personalidade se formando, ainda que em tão tenra idade (Erikson, 1987 e 1976)
É importante que a criança conviva com pequenas frustrações, pois é daí que ela vai aprender a definir quais esperanças são possíveis de serem realizadas, dando a noção do que Erikson chamou de ordem cósmica, ou seja, as regras que regem o mundo.
Nesta fase também o bebê tem a idéia de sua mãe como um ser supremo, numinoso, iluminado. Nesta mesma época, começam as identificações com a mãe, que é por enquanto, a única referência social que a criança tem. Se esta identificação for positiva, se a mãe corresponder, ele vai criar o seu primeiro e bom conceito de si e do mundo (representado pela mãe). Se a identificação for negativa, temos o idolismo, ou seja, o culto a um herói, onde o bebê acha que nunca vai chegar ao nível de sua mãe, que ela é demasiadamente capaz e boa, e que ele não se identifica assim. Inicialmente, a criança vai se tornar agressiva e desconfiada; mais tarde, elas vão se tornar menos competentes, menos entusiasmadas, menos persistentes.
Citar:A importância da confiança básica é devida, segundo Erikson, ao fato de implicar a idéia de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente ao seus impulsos e anseios” (1987, p.102).
Segundo Estágio – Autonomia x Vergonha e Dúvida
Nesta fase eriksoniana, que corresponde ao estágio anal freudiano, a criança já tem algum controle de seus movimentos musculares, então direciona sua energia às experiências ligadas à atividade exploratória e à conquista da autonomia.
A aceitação deste controle social pela criança implica no aprendizado – ou no início deste – do que se espera dela, quais são seus privilégios, obrigações e limitações. Deste aprendizado surge também a capacidade e as atitudes judiciosas, ou seja, surge o poder de julgamento a criança, já que ela está aprendendo as regras.
A questão é que os adultos, para fazerem as crianças aprenderem tais regras – como a de ir ao banheiro, tão enfatizada por Freud – fazem uso da vergonha e ao mesmo tempo do encorajamento para dar o nível certo de autonomia. Os pais, muitas vezes, usam sua autoridade de forma a deixar a criança um pouco envergonhada, para que ela aprenda determinadas regras. Porém, ao expor a criança à vergonha constante, o adulto pode estimular o descaramento e a dissimulação, como formas reativas de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida de suas capacidades e potencialidades.
Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole o do controle social, temos o nascimento da força básica da vontade, que, manifestada na livre escolha, é o precedente essencial para o crescimento sadio da autonomia. Essa vontade se manifesta em várias situações práticas, como a manipulação de objetos, a verbalização eu se inicia, a locomoção que avança em suas capacidades, tudo o que possibilite uma atividade exploratória mais autônoma e independente.
Se ao invés da vontade o controle toma a forma de uma regra a ser cumprida a qualquer preço, algo mau e perseguidor, a criança começa a se tornar legalista, ou seja, ela começa a achar que a punição tem que ser aplicada incondicionalmente quando uma regra não for respeitada. É quando a punição vence a compaixão; se a criança se mobiliza com a punição do colega que perdeu o controle de uma regra, ou então se sente aliviado quando é punido por algo.
Neste estágio, o principal cuidado que os pais tem que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue dar conta e sua autoestima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. Vemos portanto que os pais tem que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxilia-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades.
Se a criança se sentir envergonhada demais por não conseguir dar conta de determinada coisa ou se os pais reprimem demais sua autonomia, ela vai entender que todo o problema dela, toda a dúvida e a vergonha vieram de seus pais, adultos, objetos externos.Com isso, começará a ficar tensa na presença deles e de outros adultos, e poderá achar que somente pode se expressar longe deles.
Citar:Porém, logo a criança começa a compreender que não pode usar sua energia exploratória à vontade, que tem que respeitar certas regras sociais e incorporá-las ao seu ser, fazendo assim uma equação entre manutenção muscular, conservação e controle (Erikson, 1976).
A aceitação deste controle social pela criança implica no aprendizado – ou no início deste – do que se espera dela, quais são seus privilégios, obrigações e limitações. Deste aprendizado surge também a capacidade e as atitudes judiciosas, ou seja, surge o poder de julgamento a criança, já que ela está aprendendo as regras.
A questão é que os adultos, para fazerem as crianças aprenderem tais regras – como a de ir ao banheiro, tão enfatizada por Freud – fazem uso da vergonha e ao mesmo tempo do encorajamento para dar o nível certo de autonomia. Os pais, muitas vezes, usam sua autoridade de forma a deixar a criança um pouco envergonhada, para que ela aprenda determinadas regras. Porém, ao expor a criança à vergonha constante, o adulto pode estimular o descaramento e a dissimulação, como formas reativas de defesa, ou o sentimento permanente de vergonha e dúvida de suas capacidades e potencialidades.
Citar:Em uma explanação mais completa sobre a vergonha, Erikson ressalta que trata-se, na verdade, de raiva dirigida a si mesmo, já que pretendia fazer algo sem estar exposto aos outros, o que não aconteceu. A vergonha precederia a culpa, sendo esta última derivada da vergonha avaliada pelo superego (Erikson, 1976).
De um sentimento de autocontrole sem perda de auto-estima resulta um sentimento constante de boa vontade e orgulho; de um sentimento de perda do autocontrole e de supercontrole exterior resulta uma propensão duradoura para a dúvida e a vergonha (Erikson, 1976, p.234).
Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole o do controle social, temos o nascimento da força básica da vontade, que, manifestada na livre escolha, é o precedente essencial para o crescimento sadio da autonomia. Essa vontade se manifesta em várias situações práticas, como a manipulação de objetos, a verbalização eu se inicia, a locomoção que avança em suas capacidades, tudo o que possibilite uma atividade exploratória mais autônoma e independente.
Se ao invés da vontade o controle toma a forma de uma regra a ser cumprida a qualquer preço, algo mau e perseguidor, a criança começa a se tornar legalista, ou seja, ela começa a achar que a punição tem que ser aplicada incondicionalmente quando uma regra não for respeitada. É quando a punição vence a compaixão; se a criança se mobiliza com a punição do colega que perdeu o controle de uma regra, ou então se sente aliviado quando é punido por algo.
Neste estágio, o principal cuidado que os pais tem que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue dar conta e sua autoestima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida de suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. Vemos portanto que os pais tem que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxilia-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades.
Se a criança se sentir envergonhada demais por não conseguir dar conta de determinada coisa ou se os pais reprimem demais sua autonomia, ela vai entender que todo o problema dela, toda a dúvida e a vergonha vieram de seus pais, adultos, objetos externos.Com isso, começará a ficar tensa na presença deles e de outros adultos, e poderá achar que somente pode se expressar longe deles.
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